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Um espaço de informações tanto para o público leigo como para profissionais e estudantes ligados à área de Ciências Humanas e Sociais.
sábado, 14 de janeiro de 2017
terça-feira, 20 de maio de 2014
sábado, 5 de abril de 2014
A depressão e a Política Nacional de Saúde do Idoso
1-
Introdução:
O
presente artigo tem como objetivo apontar os principais fatores que acarretam a
depressão na terceira idade e destacar a Política Nacional de Saúde do Idoso. Buscamos,
assim, numa visão pós-moderna, congregar os aspectos sociais, psicológicos e
orgânicos que contribuem para produzir e manter o quadro depressivo, dentro de
um modelo biopsicossocial.
Sobre
esse modelo biopsicossocial, atualmente muito aceito, a medicina poderia atuar
com eficácia nos dois primeiros, ficando o aspecto social submetido à atuação
sócio-político-cultural, notadamente nessa questão da terceira idade, onde a psicologia atua de forma
preponderante. (Stoppe e Louza,
1999).
As
diferenças de sintomatologia da depressão no idoso fortalecem os argumentos que
dizem ser este um tipo diferente daquela de outras faixas etárias. Nos idosos,
por exemplo, a depressão se apresentaria com sintomas somáticos ou
hipocondríacos mais frequentes, haveria menos antecedentes familiares de
depressão e pior resposta ao tratamento. Mas a tendência atual não é apontar
diferenças marcantes entre a depressão em idosos e a de outras faixas etárias,
e sim enfatizar que o diferente é a situação existencial específica do idoso.
Do ponto de vista vivencial, o idoso está numa situação de perdas continuadas:
a diminuição do suporte sócio-familiar, a perda do status ocupacional e
econômico, o declínio físico continuado, a maior frequência de doenças físicas
e a incapacidade pragmática crescente são motivos suficientes para um
expressivo rebaixamento do humor. Do ponto de vista biológico, durante o
processo de envelhecimento é mais frequente o aparecimento de fenômenos
degenerativos ou doenças físicas capazes de produzir os sintomas característicos
da depressão. Assim, clássicos conceitos de depressão reativa, depressão
secundária e depressão endógena se confundem na depressão senil (APA, 1994).
A
Organização Mundial de Saúde define o indivíduo como idoso a partir dos 65 anos
nos países desenvolvidos e dos 60 anos nos países subdesenvolvidos. A
longevidade é sem dúvida um triunfo, quando alcançada com dignidade. O
envelhecimento associado às melhorias nas condições gerais de vida é o que se
espera de uma sociedade que prioriza o valor do idoso como ser humano digno de
respeito.
Você,
jovem, já pensou que um dia ser tornará um deles?
A
terceira idade chama atenção para as diversas questões físicas, psicológicas e
sociais que a envolvem.
Mas que questões são essas?
Conflitos
familiares, aposentadoria, surgimento de doenças senis (crônicas), declínio da
capacidade funcional, contínuas perdas e, muitas vezes, condições sociais
desfavoráveis.
2-
Principais sintomas:
Rebaixamento
do humor, redução da energia, diminuição da atividade, alteração na capacidade
de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de
concentração, associadas em geral à fadiga, mesmo após um esforço mínimo.
Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase
sempre uma diminuição da autoestima, da autoconfiança e frequentemente ideias
de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves. O humor
depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode vir
acompanhado de sintomas ditos somáticos, por exemplo, perda de interesse ou
prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de
despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora importante,
agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido.
Dentre
os sintomas psicológicos, o mais frequente é a chamada anedonia, ou seja, a
perda da capacidade de sentir prazer e déficits cognitivos, particularmente de
memória. A depressão em idosos é um importante fator para piora da qualidade de
vida destes indivíduos, especialmente para os que permanecem não diagnosticados
e sem tratamento (MICHELAN, 2011).
3-
Política Nacional de Saúde do Idoso
A
Constituição brasileira de 1988 foi a primeira a tratar o idoso e a velhice
como um problema social, avançando para além da assistência previdenciária e
assegurando a proteção na forma de assistência social. Entretanto, é necessário
explicitar e separar o direito à velhice e a proteção à velhice.
Como
conduzir a embarcação no mar revolto?
Esperar
que o governo elabore políticas públicas não é difícil, vide o cabedal de leis
que são promulgadas, entretanto colocá-las em prática de forma a beneficiar
integrantes dessa faixa etária é uma outra história. Muito do que se preconiza
no papel não passa de ações “politiqueiras”, mera demagogia de uma classe
insensível aos problemas da sociedade, principalmente das classes menos
favorecidas.
Fala-se,
muito, hoje no Brasil da chamada Política Nacional de Saúde do Idoso. O que é
isso? Vamos lá!
No
Brasil, o direito universal e integral à saúde foi conquistado pela sociedade
na Constituição de 1988 e reafirmado com a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS), por meio da Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90. Por esse direito,
entende-se o acesso universal e equânime a serviços e ações de promoção,
proteção e recuperação da saúde, garantindo a integralidade da atenção, indo ao
encontro das diferentes realidades e necessidades de saúde da população e dos
indivíduos. Esses preceitos constitucionais encontram-se reafirmados pela Lei
nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispôs sobre a participação da
comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde e as Normas
Operacionais Básicas (NOB), editadas em 1991, 1993 e 1996, que, por sua vez,
regulamentam e definem estratégias e movimentos táticos que orientam a
operacionalidade do Sistema.
Em 1999, a Portaria Ministerial nº 1.395 anuncia a Política Nacional de Saúde do Idoso, a
qual determina que os órgãos e entidades do Ministério da Saúde relacionados ao
tema promovam a elaboração ou a readequação de planos, projetos e atividades na
conformidade das diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas (Brasil,
1999). Essa política assume que o principal problema que pode afetar o idoso é
a perda de sua capacidade funcional, isto é, a perda das habilidades físicas e
mentais necessárias para realização de atividades básicas e instrumentais da
vida diária.
Em 2002, é proposta a organização e a implantação
de Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso (Portaria nº 702/SAS/MS, de
2002), tendo como base as condições de gestão e a divisão de responsabilidades
definida pela Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). Como parte de operacionalização
das redes, são criadas as normas para cadastramento de Centros de Referência em
Atenção à Saúde do Idoso (Portaria nº 249/SAS/MS, de 2002).
Em 2003, o Congresso Nacional aprova e o Presidente
da República sanciona o Estatuto do Idoso, elaborado com intensa participação
de entidades de defesa dos interesses dos idosos. O Estatuto do Idoso amplia a
resposta do Estado e da sociedade às necessidades da população idosa, mas não
traz consigo meios para financiar as ações propostas. O Capítulo IV do Estatuto reza especificamente sobre o papel do SUS na
garantia da atenção à saúde da pessoa idosa de forma integral, em todos os
níveis de atenção.
Assim, embora a legislação brasileira relativa aos
cuidados da população idosa seja bastante avançada, a prática ainda é
insatisfatória. A vigência do Estatuto do Idoso e seu uso como instrumento para
a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da Estratégia Saúde da Família
que revela a presença de idosos e famílias frágeis e em situação de grande
vulnerabilidade social e a inserção ainda incipiente das Redes Estaduais de
Assistência à Saúde do Idoso tornaram imperiosa a readequação da Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI).
Voltando
à realidade...
Você
já visitou um abrigo de idosos de baixa renda? Na maioria das vezes é uma
reprodução dos campos de concentração da Alemanha Nazista.
O nome “Clínica” Santa Genoveva
desperta algo em você?
Seria
essa a tal Política Nacional de Saúde do Idoso?
Mediante tal contexto, falar
de depressão é a mais pura redundância, já que existe uma imensa fenda entre o
que preconiza a política do SUS e as ações práticas não idealizadas.
O que você tem a dizer
sobre isso?
Chega a ser
hilário quando a tal política menciona que “esforços tendem a concentrar o
idoso na comunidade, com apoio social junto à sua família, da forma mais confortável
possível”.
4-
Conclusão:
Do
ponto de vista filosófico, o cuidado é a essência da vida e é ele que permite "a revolução da ternura ao
priorizar o social sobre o individual e ao orientar o desenvolvimento para a
melhoria da qualidade de vida dos humanos e de outros organismos vivos. O
cuidado faz surgir o ser humano complexo, sensível, solidário, cordial, e
conectado com tudo e com todos no universo" (BOFF, 2004, p.
190).
“Ser
velho é lutar para continuar sendo homem, num esforço incansável para a
manutenção da própria identidade e conquista de cidadania”, Marilena Chauí
(apud Bosi), em Memória e Sociedade - Lembranças de Velhos, (pág.18).
Precisamos
ser mais críticos em relação às políticas públicas. A aceitação passiva é um
passaporte para o descaso. O nosso “grito de guerra” é a única forma de acabar
com a demagogia e a prepotência dos que utilizam o poder em favor próprio,
aniquilando o direito daqueles que por décadas trabalharam em prol de uma
sociedade mais justa e igualitária.
Referências
Depressão na
Terceira Idade, Psicologando artigos. Disponível em http://psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/depressao-na-terceira-idade
BOFF, L.
Conclusão. In: ______. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela
terra. 11 ed.
Petrópolis: Vozes, 2004.
APA - American Psychiatric Association: Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders (1994). 4a ed. Washington (DC): American
Psychiatric Association.
Stoppe, Jr, A. e Louza, Neto, M.R. (Eds.). (1999).
Depressão na terceira idade. São Paulo: Lemos Editorial
Depressão na infância - Uma abordagem social
1- Considerações
iniciais
Até
meados da década de 1970 não se cogitava sobre esse tema, acreditava-se que a
depressão infanto-juvenil fosse rara ou mesmo inexistente.
O reconhecimento do
quadro depressivo infantil como transtorno capaz de afetar pessoas dessa faixa
etária foi reivindicado pelo IV Congresso da União de Psiquiatras da Infância
Europeus, realizado em Estocolmo em 1971 (Annell, 1972). Isso resultou na
elaboração de critérios de diagnóstico para o denominando Transtorno Depressivo
da Infância e Adolescência (DSM-IV, 1994).
Ao
longo dos anos esse tema vem se tornando alvo de crescente preocupação entre os
profissionais da área de saúde, devido ao aumento gradativo dos casos. Essa
nova construção que fundamenta a noção da depressão infantil na pós-modernidade,
suscita alguns questionamentos:
- O que mudou nesses últimos anos para tornar esse assunto relevante?
- As crianças de hoje são diferentes das crianças das décadas passadas?
No
que tange tais questionamentos, há algumas situações preocupantes em nossos
dias, como a obesidade infantil – Opa! Você mudou radicalmente de assunto? Não,
vamos lá.
Índices indicam que
crianças com menos de 10 anos apresentam altas taxas de glicemia e colesterol, problemas
que poderiam surgir somente em idade adulta. Muito se atribui à massificação
dos fast-food e, principalmente, ao
excesso de atividades dos infantes. Certa psicóloga comentou que seu cliente de
8 anos, ao chegar à terapia, solicitava: “posso dormir um pouquinho?”.
Por
outro lado, as crianças também estão apresentando sintomas depressivos muito
cedo. Alguém poderia perguntar: onde você está querendo chegar?
As
situações apresentadas, apesar de divergentes em sua etiologia e sintomatologia,
convergem em seus aspectos sociais: as
crianças estão se tornando adultas muito cedo. Onde fica o tempinho de
brincar, da alimentação saudável e do contato com os pais? Essas consequentes mudanças,
e o próprio fato de a criança deixar de existir em sua essência básica, têm
acarretado o surgimento precoce de determinadas síndromes, entre elas, a
depressão. A pós-modernidade confere às famílias desafios sociais até então
ignorados, entre esses a precocidade infantil.
“É uma metáfora
simples. Nosso arranjo social, nos dias de hoje, se comporta como um líquido em
um recipiente. Ou seja, não se mantém por muito tempo em um mesmo estado. Está
sempre mudando. Enquanto gerações passadas se acostumaram a uma estabilidade de
todas as coisas, o homem contemporâneo enxerga as rápidas mudanças nos partidos
e movimentos políticos, nas causas, nas instituições que acabam, na moda, tudo
muda várias vezes. Tenho 88 anos e já vi vários arranjos sociais”, disse Bauman
(conceito de “liquidez” da sociedade pós-moderna, Bauman).
2-
Sintomatologia
Os
sintomas das síndromes depressivas em crianças não são, necessariamente, iguais
aos apresentados em adultos. Estudos nesse sentido levam em consideração as
alterações decorrentes de mudanças de faixas etárias.
Este artigo não se
propõe a descrever os possíveis fatores físicos da depressão na infância. Nosso
foco está na relação organismo/meio como as questões familiares, bem como as
dificuldades no ambiente escolar.
Os sintomas preliminares da depressão na infância podem incluir, por exemplo, uma redução significativa do interesse e da atenção do menor. Em não se tratando de uma depressão biológica ou com importante componente hereditário, algumas causas na relação do indivíduo com o meio podem ser capazes de comprometer o interesse e a atenção da criança, como os conflitos intrafamilares, bem como as dificuldades na adaptação ao ambiente escolar.
Você tem percebido o
comportamento do seu filho nas últimas semanas?
Aquela
fisionomia triste, comunicação monossilábica, atitudes agressivas. E quando ele
se tranca no quarto e já não quer brincar ou mesmo ir para a escola; como diria
Hamlet, "Há algo de podre no reino da Dinamarca”. Tendo em vista a
importância das mudanças de comportamento infantil, pais e professores devem
ficar atentos para acontecimentos que chamam atenção; um grito de socorro pode
estar eclodindo: “atenção adultos, estou precisando de ajuda!”.
Você tem conversado com o seu
filho nas últimas semanas?
Mudanças
de comportamento repentino, tais como: violações às regras sociais, oposição
brusca aos pais e professores, são indicativos de que fatores externos, ou
mesmo internos, estão acometendo a criança. O que devo fazer? Deixá-lo de
castigo, proibir que utilize a internet? Segundo Martin Buber, “O ser humano se torna eu pela relação com o
você, à medida que me torno eu, digo você. Todo viver real é encontro”.
O real encontro ocorre
pelo diálogo, que é a laboriosa arte do encontro entre duas pessoas, a
construção de uma relação profícua. Só assim vamos ajudar a criança a enfrentar
o seu, possível, drama existencial.
O baixo rendimento escolar e as dificuldades de
aprendizagem também estão presentes nos quadros depressivos da infância, seja
da depressão biológica, seja das reações depressivas diante dos problemas
vivenciais. Declínio no rendimento escolar, particularmente acompanhado de
desinteresse geral, pode ser reflexo de ambiente escolar estressante, por conta
de colegas ou professores. A falta de empatia com professores, eventuais
situações vexatórias diante dos colegas ou bullying podem resultar em severo
desinteresse (PsiqWeb).
Quando
a criança deixa de verbalizar suas emoções, perde o contato consigo mesmo e com
o meio, um sinal claro de que o isolamento social se instalou. E o que isso
acarreta? Um profundo sentimento de tristeza que tende a se agravar, se não forem
tomadas providências.
3- A
criança com depressão e a família
Na
maioria das vezes é difícil, para a família, perceber e admitir que seu
“baixinho” está passando por uma síndrome depressiva.
“Esse
garoto não fala com ninguém, ele é manhoso", "birrento",
"nervoso", "mal-educado”.
Os
sintomas que apontam para a doença só passam a ser percebidos quando o quadro
de atitudes e comportamentos é bizarro, ou seja, estranho ao ponto de chamar a
atenção dos adultos. Essa incompreensão sobre o que está acontecendo com a
criança adia a procura por ajuda profissional e, consequentemente, protela o
diagnóstico.
3.1 Cuidados
com o infante
A
importância do acompanhamento psicológico é fundamental, evitando, assim, a
evolução do quadro clínico e, na possibilidade de existirem componentes
orgânicos associados, é imprescindível à ação do psiquiatra.
O
profissional especializado (psicólogo / psiquiatra) tem condições de avaliar
com profundidade, não só as questões decorrentes de fatores biológicos, como as
decorrentes de situações vivenciais, tais como: violência física, sexual, maus
tratos, bullying, queixas escolares.
4
- Conclusão:
Reflexões
sobre o modo de viver das sociedades contemporâneas nos colocam diante do novo,
o que implica repensar nosso papel dentro desse contexto. As mudanças que vêm
ocorrendo influenciam diretamente as práticas desenvolvidas principalmente nos
ambientes familiar e escolar e, consequentemente, o desenvolvimento dos
sujeitos inseridos nesse cenário.
Os
desafios existenciais não são privilégios unicamente dos adultos, a criança
também tem seus desafios, principalmente dentro desse arranjo pós-moderno, onde
o embate com o mundo tem seu início muito cedo e o calor humano se dissipa
velozmente. Em meio a tais circunstâncias, nossa
sociedade tem se tornado cada vez mais complexa, construindo um quadro
alarmante de conflitos e de valores.
É
imprescindível que haja esforços efetivos para a compreensão da pessoa humana,
principalmente dos seres sensíveis que se colocam diante de nós, em busca de
amor, cuidado e respeito. Fechar os olhos para tal situação é construir um
casulo e nele se manter hermeticamente fechado, pior, negligenciar nosso papel
de pais, cuidadores, professores etc.
“Ser responsável pelo
outro” e ‘ser responsável por si mesmo’ vêm a ser a mesma coisa”
(BAUMAN).
Referências:
BALLONE
GJ, Depressão
Infantil, in. Psiqweb,
Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2010.
BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido –
Sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
SOUZA, Vera Lucia
Trevisan. et al. Psicologia, educação e a sociedade contemporânea: reflexões sob a perspectiva da psicologia
sócio-histórica. Psicólogo inFormação ano 11, n. 11, jan./dez. 2007.
Paulo Gusmão
Psicólogo Clínico - Méier /RJ
CRP: 05/45814
Tel: 2595-2359 / 97489 -8008 / 97489-8008
VEJA MEU PERFIL NO DOCTORALIA.
sábado, 7 de dezembro de 2013
Depressão – Um problema inquietante
Considerações iniciais:
As diversas áreas do conhecimento se caracterizam pelo uso de tipos
específicos de simbologia, vejamos: para que possamos ter certa noção sobre
música é necessário dominar os símbolos musicais (notas, claves, etc.), se
desejamos dominar o campo da química é necessário conhecer a simbologia dos
elementos químicos. Os profissionais da área de saúde (psicólogos, psiquiatras,
médicos) não são diferentes – eles necessitam de uma simbologia que os auxilie
a identificar possíveis alterações físicas e mentais; esses símbolos são
denominados de sinais e sintomas.
Os sinais são achados objetivos observados pelo (psicólogo
/psiquiatra), por ex. afeto rígido e retardo psicomotor; os sintomas são
expressões subjetivas descritas pelo paciente, p.ex. humor deprimido e energia
diminuída.
Vamos avançar um pouco mais. Quando o profissional da área de saúde coleta,
por meio de exames, testes e entrevistas, um conjunto de sinais e sintomas
que apenas descrevem um processo patológico, sem que se feche o diagnóstico,
dizemos que ele está diante de uma síndrome.
Se esse profissional fecha o diagnóstico, ou seja, consegue
interpretar criteriosamente o conjunto de sinais e sintomas que o paciente
apresenta, dizemos que ele está diante de um transtorno específico
(doença).
Na área de saúde mental, trabalha-se muito mais com síndromes do que
com doenças ou transtornos específicos – possivelmente para evitar uma
rotulação do paciente. Para facilitar a navegação nos textos utilizaremos a sigla SD em referência ao
termo “síndrome(s) depressiva(s)”.
“Em psicopatologia e
psiquiatria, trabalha-se muito mais com síndromes do que com transtornos
específicos” (Dalgalarrondo).
1-
Introdução
Pacientes com SD tendem a apresentar um número maior ou menor de
sintomas, portanto é importante frisar que não temos como objetivo generalizar
os quadros depressivos.
As SD são atualmente reconhecidas como um problema prioritário de
saúde pública. Segundo levantamento da OMS, a depressão maior unipolar é
considerada a primeira causa de incapacidade entre todos os problemas de saúde,
elevando os custos sociais e econômicos.
O fenômeno da depressão tem
chamado a atenção na atualidade por sua crescente incidência no mundo todo. De
acordo com o Relatório sobre a Saúde no Mundo, da Organização Mundial de Saúde
(2011), a depressão grave é atualmente a principal causa de incapacitação na
população em geral, situando-se em quarto lugar entre as dez principais causas
da carga mundial de doenças. De acordo com o mesmo documento, se as projeções
se mantiverem corretas, nos próximos vinte anos a depressão deverá ser a
segunda das principais causas das doenças no mundo. O Ministério da Saúde
calcula que, em um dado momento da vida, entre 13% e 20% da população apresenta
algum sintoma depressivo; além disso, o custo agregado por prejuízo ao trabalho
é imenso (Wannmacher, 2004).
2-
Características
É comum ouvirmos esse termo em vários segmentos da área de saúde - psicólogos
/ psicanalistas e médicos lidam costumeiramente com situações que envolvem
pessoas com sintomas de tristeza, sem afetividade. Podendo ser utilizado tanto
para sintomas isolados – situações do dia a dia – ou associado a diversas
manifestações clínicas.
A perda de interesse ou prazer são os sintomas básicos da depressão.
Os pacientes apresentam-se tristes, sem esperança, com sentimento de
inutilidade. Frequentemente descrevem os sintomas como sendo de dor emocional
lancinante, queixam-se, ocasionalmente, de serem incapazes de chorar. Quase
todos os pacientes deprimidos (97%) queixam-se de uma diminuição da energia que
resulta em dificuldades para terminar tarefas, acarretando comprometimento nas atividades
diárias (escola, trabalho) e motivação diminuída para assumir novos projetos.
Cerca de 80% queixam-se de problemas para dormir, especialmente despertar nas
primeiras horas da manhã, às vezes são acometidos de múltiplos despertares
durante a noite, durante os quais “remoem” seus problemas (Kaplan, 1997).
3-
O que é a depressão?
A depressão pode ser
vista a partir de três ângulos: como fator afetivo, como sintoma e como
síndrome – vejamos:
3.1
Como fator afetivo normal
A afetividade é uma
dimensão que colore a existência humana. A ausência de afetos torna a vida
psíquica do indivíduo embotada, ou seja, sem brilho, sem cor e sem calor.
“A vida afetiva ocorre sempre
em um contexto de relações do Eu com o mundo e com as pessoas, variando de um
momento para outro à medida que os eventos e as circunstâncias da vida se
sucedem” (Dalgalarrondo 2008, p.159).
A depressão como fator
afetivo apresenta como característica típica um sentimento de tristeza de
intensidade leve a moderada. Nesse caso a depressão é reativa e surge em função
de uma resposta do organismo a certos eventos, como perdas, derrotas e outras
vicissitudes. Em geral, apesar de comprometer certas funções psicológicas como
o sono e o apetite, esse tipo de depressão não chega a ser grave; tende a ser
de curta duração, ou mesmo proporcional ao evento. Todavia, consiste num sinal
de alerta de que o indivíduo está necessitando de apoio emocional, principalmente
das pessoas mais próximas a ele.
Deve-se ficar atento
para uma possível evolução do nível de tristeza e da sintomatologia da pessoa;
lentificação motora, sentimento de culpa, ou mesmo ideias suicidas. Neste caso
o quadro pode estar evoluindo para um estado melancólico, sendo imprescindível
a intervenção tanto do psicólogo quanto do psiquiatra.
3.2
Como sintoma
Enquanto sintoma, a
depressão pode surgir em função de uma enormidade de quadros clínicos, entre os
quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia,
alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações
estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas.
3.3
Como síndrome
Enquanto síndrome, a
depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade,
falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma multiplicidade de
sintomas, entre eles:
I. Afetivos:
Tristeza, melancolia
(quadro grave), choro frequente, estado de indiferença (apatia), sentimento de
tédio, aborrecimento crônico, irritabilidade, angústia, ansiedade e desespero.
Vide item 3.1.
II. Instintivos e Neurovegetativos:
Fadiga, insônia,
diminuição da libido - incapacidade de sentir prazer em várias esferas da vida
(anedonia).
III. Ideativos:
Pessimismo, sentimento de
culpa, mágoa, tédio, ideias de morte (planos ou atos suicidas).
IV. Cognitivos:
Déficit de atenção e
concentração, déficit secundário de memória e dificuldade de tomar decisões.
V. Sintomas de autovaloração:
Sentimento de
incapacidade, sentimento de vergonha e autodepreciação (autoestima baixa).
VI. Sintomas de Volição e Psicomotricidade:
Tendência a permanecer na
cama por todo o dia, aumento na latência entre perguntas e respostas, lentificação
psicomotora (estupor), fala lentificada, mutismo (negatividade verbal);
negativismo (recusa à alimentação, à interação pessoal).
VII. Fenômenos biológicos (neuronais ou neuroendócrinos) associados.
Algumas doenças associam
a depressão ao seu quadro clínico, assim, antes de iniciar a psicoterapia ou mesmo
o tratamento psiquiátrico e/ou psicoterápico é fundamental que o paciente
submeta-se a uma avaliação médica criteriosa, eliminando possíveis fatores
orgânicos.
Obs. É importante frisar
que estamos nos referindo, neste item, a situações que envolvam a hipótese de algum
tipo de organicidade.
A doença da tireoide e outras endocrinopatias podem manisfestar-se
como transtorno de humor ou uma psicose; o câncer ou uma doença infecciosa,
como depressão; infecções e doenças do tecido conjuntivo, como alterações
agudas do estado mental. Além disso, uma série de condições mentais orgânicas
ou neurológicas podem apresentar-se primeiro ao psiquiatra (Kaplan, p.271).
3.4
Como doença
A depressão como doença
(transtorno) trata-se de um “desafio psicopatológico permanente”. Essa condição
tem sido classificada de várias formas, dependendo basicamente da preferência
dos autores e do ponto de vista adotado. Na literatura encontramos termos, tais
como: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante
do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc. Não
é nosso objetivo aprofundar esse campo, já que nossa meta é atingir um público
leigo, cujo interesse limita-se aos aspectos básicos e fundamentais das
síndromes depressivas.
4-
Tratamento das síndromes
depressivas
Embora a especialidade
que trata as SD (em termos farmacológicos) seja a psiquiatria, há uma
intromissão de profissionais de outras áreas médicas, tais como: clínicos,
geriatras, ginecologistas, etc. que prescrevem medicações de ação psicotrópica
(tarja preta), e com isso o paciente é subtratado, agravando o seu estado clínico.
Você
já teve conhecimento de um psiquiatra que trata de gastrite, ou de uma
pneumonia?
Entretanto, há pessoas
que, mesmo em meio ao sofrimento, relutam em procurar um profissional da área
de saúde mental (psicólogos e/ou psiquiatras), devido ao estereótipo que
“psicólogos e psiquiatras são médicos de loucos”.
A depressão não pode ser tratada
como uma ocorrência isolada, mas a partir do contexto no qual o indivíduo
esteja inserido, ou seja, deve-se levar em conta o todo do paciente:
dimensões biológicas, psicológicas e sociais. O tratamento deve ser próprio
para cada indivíduo, podendo incluir psicoterapia, mudança de estilo de vida e
terapia farmacológica de acordo com a gravidade e características de cada caso.
No Brasil, existem os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que
proporcionam atendimento gratuito para pessoas em sofrimento mental cuja
severidade as impeçam de realizar suas atividades diárias. Conforme documento
do Ministério da Saúde (2004), os CAPS têm como objetivo
atender à população em sua área de
abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos
usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É um serviço de saúde
mental criado para substituir as internações em hospitais psiquiátricos (Rev.
abordagem gestalt /Online/ 2013 vol.19, n.1).
Estudos apontam que tratamentos
com psicoterapia combinada com medicação foram considerados mais eficazes do
que tratamentos farmacoterapêuticos isolados, mesmo se considerando a
necessidade de mais estudos nesta direção. Assim sendo, vislumbra-se o papel essencial
que a psicologia pode exercer no desenvolvimento de intervenções que possam
contribuir para amenizar o sofrimento do paciente em depressão.
5-
Conclusão
Na sociedade pós-moderna
o mal-estar tem assumido novas dimensões, onde a relação entre organismo e meio
fica evidente nos registros do corpo e da ação; dores diversas e inespecíficas,
sensações de completo esgotamento, stress.
Esta nova modalidade de
mal-estar implica numa substancial alteração no nível psicológico do indivíduo,
resultando em isolamento, tristeza e alterações de humor, um “prato cheio” para
a proliferação das síndromes depressivas.
Com isso a concepção de
uma existência saudável fica seriamente comprometida. Entretanto o que se propõe
hoje são ações de prevenção (profilaxia), na busca de uma vida mais saudável.
Segundo Bohoslavsky, “não são as doenças que definem os indivíduos, mas sim os
indivíduos que definem as doenças”.
Partindo do princípio que
somos seres de relação, fica óbvio que o isolamento contribui em muito para o
aparecimento de sintomas depressivos. O contato entre os seres é condição sine qua non para uma vida saudável.
Torna-se necessário compreender que não basta apenas estar no mundo, mas sim, estar
e interagir com ele, sem necessariamente responder as exigências massificadas
de um contexto pós-modernista onde o ter é mais importante que o ser.
Viver corretamente não é mais apenas o cumprimento de uma ordem
ética ou religiosa. Pela primeira vez na história, a sobrevivência física da
espécie humana depende de uma radical mudança do coração humano. Todavia, uma
transformação do coração humano só é possível na medida em que ocorram
drásticas transformações econômicas e sociais que deem ao coração humano a
oportunidade para mudança, coragem e visão para consegui-la. (Erich Fromm)
Valorize o seu viver!
REFERÊNCIAS:
COSTA, Elisabeth M. Sene: Universo da depressão. São
Paulo: Editora Agora.
DALGALARRONDO, Paulo: Psicopatologia
e semiologia dos transtornos mentais. 2ª Ed. São Paulo: Artmed, 2008.
KAPLAN & SADOCK:
Compêndio de Psiquiatria. 7ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 1997.
Paulo Gusmão
Psicólogo Clínico - Méier /RJ
CRP: 05/45814
Tel: 2595-2359 / 97489 -8008
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